quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

VIAGEM


É, é isso. Procuramos frequentemente regar aquilo que plantamos, mas a facilidade da água caindo na vertical sobre as plantas, frequentemente as torna cúmplices do facilitismo. Devemos regar, sim, mas apenas o suficiente e depois ver como cada uma das plantas, dos arbustos e das árvores se esmeram, se esforçam, por descobrir no subsolo o alimento da água que há-de retribuir-lhes a vida.
Assim também deve ser o humano. Ele deve regar apenas o suficiente da estrada por onde há-de caminhar. Apenas aquele mínimo para endurecer e estabilizar o pó. Depois, há-de caminhar por ela e perceber quando ela está seca e carece de novo de uma pequena chuva que a realimente. Todos devemos saber (e isso é tão difícil!) quando devemos alimentar o prado onde caminhamos. Porque nenhum de nós pode prever quando virá a seca que estiolará o jardim, o prado, o bosque. Mas há uma coisa que sem esforço podemos saber: as lágrimas que vertemos e as palavras que pronunciamos poderão saciar a sede das plantas. E o tom com que lhes falamos pode ser bem mais importante do que a água com que as regamos. Às vezes, um pequeno gesto afável e carinhoso sobre uma pétala, uma folha ou um ramo de um arbusto, pode salvar a planta ou a árvore. Tal como num deserto, a presença humana, mesmo que por breves minutos, pode ser a fórmula mágica para impedir que um oásis se dissolva nas areias ressequidas.
Assim pensa o poeta. Assim age o Homem consciente. Porque a Vida é muito mais do que aquilo que nos aparece. E o seu alimento está para além da evidência do quotidiano.
Apeteceu-me agora recordar uma frase do Mia Couto, em A Chuva Pasmada: «Pobre é estar sozinho»!

PLAUTO

2 comentários:

Menina Marota disse...

"...Mas há uma coisa que sem esforço podemos saber: as lágrimas que vertemos e as palavras que pronunciamos poderão saciar a sede das plantas. E o tom com que lhes falamos pode ser bem mais importante do que a água com que as regamos. Às vezes, um pequeno gesto afável e carinhoso sobre uma pétala, uma folha ou um ramo de um arbusto, pode salvar a planta ou a árvore. Tal como num deserto, a presença humana, mesmo que por breves minutos, pode ser a fórmula mágica para impedir que um oásis se dissolva nas areias ressequidas.
Assim pensa o poeta. Assim age o Homem consciente. Porque a Vida é muito mais do que aquilo que nos aparece. E o seu alimento está para além da evidência do quotidiano.
Apeteceu-me agora recordar uma frase do Mia Couto, em A Chuva Pasmada: «Pobre é estar sozinho»!"


É nesta riqueza de palavras que está a essência da Vida...

E como gostei de ler este texto, que reli novamente, na calma do amanhecer, deste Sábado...

Um abraço ;)

Isamar disse...

A Chuva Pasmada,Mia Couto, essa outra paixão que alimento. A leitura. Pobre é estar sozinho mas nós, por aqui,tentamos combater essa pobreza. Juntamo-nos numa roda de amigos e juntos vamos regando, pouco a pouco, os trilhos que queremos abrir.

Beijinhosssss