sábado, 16 de fevereiro de 2008

CRIAÇÃO E APOCALIPSE








Criação (Miguel Ângelo) Apocalipse (Dürer)
Uma coluna de gás
uma coluna de fumo
uma coluna de névoa
irrompe do fim do tempo
da longa noite do Caos
e surge o corpo do Homem
brotando da Natureza
munido de olhos e cérebro
cheio de força nos braços
e habilidade nas mãos
capaz de correr saltar
capaz de sorrir chorar
cheio de barro nas umhas
o barro que há-de mudar
as montanhas em planaltos
o curso dos próprios rios
e que há-de suster o mar
com a fúria da vontade
ante a impotência dos deuses

Capaz de andar vertical
em desafio atrevido
à magestade do Olimpo
capaz também de ajoelhar
ao imenso peso do medo
ou ainda de gritar
toda a opressão dum segredo
Este é o Homem - Criação
fabricando o Apocalipse
que vem de há milhões de anos
num êxodus permanente
rumo ao longínquo futuro
que se esconde à sua frente

Homo Sapiens Eu e Tu
Micro dejecto dos céus
Só quando o Homem está nu
parece filho dum deus
porque o barro de que é feito
é igual ao barro paterno

O Homem nasce perfeito
e ao morrer insatisfeito
torna-se Terra é eterno



PLAUTO

2 comentários:

Menina Marota disse...

E no final...todos teremos um Juízo Final...e, quem sabe, o Prémio ou o Castigo...

bj ;)

Isamar disse...

Lindíssimo!Para ler e reler, Poeta! A sonoridade que te está nas veias, a musa inspiradora, a tua eloquência tornam estes poemas um autêntico fascínio.

Beijinhosssss