sábado, 16 de fevereiro de 2008

DÁDIVA

Rembrandt




Não me peçam palavras melífluas
quando apenas a sonora gargalhada
me irrompe do peito como pedra lascada
nem sorrisinhos de catálogo de moda
quando o mijar numa esquina da cidade
é um acto poético e cheira a vida
não me peçam gestos simétricos e convencionais
quando um cosmopolítico manguito
abarca toda a náusea
de Bordalo a Pasolini
Não me peçam nunca aquilo que vós quereis
porque eu dou apenas aquilo que possuo
e que é esta raiva enorme de cuspir
esta feroz vontade de gritar
e o sexo amplo enorme e predisposto
a fertilizar o amor em todas as esquinas
peçam-me a mim
nada mais
e dar-vos-ei tudo o que possuo
o suor o sangue o sexo
EU
e comigo dar-vos-ei o homem primitivo
o que recusa a civilização do marketing
o que caga nas gravatas dos public-relations
mas que aposta no futuro único do
CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS

Sim peçam-me a mim

Tomai e comei
ESTE É O MEU CORPO
PLAUTO

3 comentários:

Menina Marota disse...

Bem... este poema é intenso... um grito de alma, que acredito sair lá bem do fundo!

Um abraço ;)

Isamar disse...

Não , não te peço aquilo que não me podes dar mas, poesia, a minha paixão, essa jamais deixarei de ta pedir. Depois de ler os teus poemas, se já gostava de poesia, fiquei ainda mais apaixonada. Pela boa! Não é poeta quem quer, é-o quem nasceu com o dom, dádiva divina. Tu tem-no!

Beijinhossss

Branca disse...

Emociante este poema, que venho reler e comentar tanto tempo depois...

com saudade.